Expressões do Quebec, da Bélgica e da Suíça

O que é “bouter le feu”?

Há poucas semanas, iniciamos aqui no site Francês Fluente a nova categoria de expressões do Québec que ampliamos agora incluindo a Bélgica e a Suíça. Essa expressão “bouter le feu” é muito usada nesses dois países. O verbo bouter tem suas raízes no idioma ancestral dos Francos (um dos povos dos quais descende o povo que fala o francês), chamado de Francique. Ela significa por fogo, incendiar. Uma aproximação possível com o português botar fogo? Nada comprovado, mas sim, é esse o sentido.

Dicas de francês

Uma ou duas consoantes?

Je vois double ou il y’a un doublement de consonne? Quando saber quando uma consoante se usa uma vez ou duas?  Para começar é importante conhecer quais as consoantes que se duplicam:  Consoantes que nunca se duplicam:  h, j, q, v, w e x.  Consoantes que se duplicam raramente: b, d, g, k e z. (Na verdade o “z” não se duplica, exceto em nomes estrangeiros como jazz, grizzli, pizza, etc). Consoantes que se duplicam com frequência: c, f, l, m, n, p, r, s e t. (A consoante “s” é um caso particular pois é a única que, quando duplicada, muda o seu som: um “s” só tem som de “z” (por exemplo: poison (veneno) ou caser (colocar)) e dois “s” tem som de “s” (por exemplo: poisson (peixe) ou casser (quebrar)). Em seguida, vale ressaltar que as consoantes duplicadas se encontram sempre (ou quase!) entre duas vogais (isso já é mais intuitivo!). E decorrente disso, as consoantes não são nunca triplicadas!  Agora vamos ver algumas regras nas quais a consoante se duplica:  No feminino de alguns nomes e adjetivos terminando com uma consoante (aquelas da lista frequente!). Por exemplo: gras (gordo) no feminino vira grasse (gorda), lion (leão) vira lionne (leoa), sot (bobo) vira sotte (boba), personnel (pessoal) vira personnelle (pessoal). Mas existem exceções, por exemplo lapin (coelho) e lapine (coelha), ou ainda idiot (idiota) e idiote (idiota). Os advérbios que terminam em –ment quando são provenientes dos adjetivos que terminam em –ant viram –amment e quando são provenientes dos adjetivos que terminam em –ent viram –emment. Por exemplo, o adjetivo courant tem como advérbio couramment, o adjetivo évident tem como advérbio évidemment. Existem exceções a essa regra, como por exemplo o adjetivo présent que leva ao advérbio présentement. Alguns verbos que terminam em -eler ou -eter têm a consoante duplicada quando são conjugados no presente (menos nas duas primeiras pessoas do plural). Por exemplo, o verbo appeler (chamar) se conjuga da seguinte forma: j’appelle, tu appelles, il appelle, nous appelons, vous appelez, ils appellent. O verbo jeter (descartar) se conjuga assim: je jette, tu jettes, il jette, nous jetons, vous jetez, ils jettent. Mas também existem exceções, como os verbos acheter (comprar) ou peler (descascar).  Alguns verbos no futuro do indicativo ou no presente do condicional tem a consoante dupla. Isso se aplica para os verbos courir, pouvoir e voir, que  têm um “r” duplicado nessas condições: tu courras (tu correras) / tu courrais (tu correrias), vous pourrez (vós poderás) / vous pourriez (vós poderias), elles verront (elas verão)  / elles verraient (elas veriam).  Alguns verbos, quando se adiciona o prefixo “a” ou “o”, duplicam a primeira consoante. Por exemplo courir (correr) adicionado do prefixo “a” se torna accourir (precipitar-se), lier (juntar) se torna allier (aliar),porter (levar) se tornaapporter (trazer), poser (pousar) adicionado do prefixo “o” se torna opposer (opor), presser (apressar) se torna oppresser (oprimir). Essa regra também contém exceções tal como percevoir (perceber) que se torna apercevoir (avistar) ou mettre (pôr) que se torna omettre (omitir). Em palavras que começam com o prefixo “a”, se as consoantes a seguir forem “c”, “f” e “p”, elas geralmente se duplicam quando têm a seguir um “l” ou um “r”. Alguns exemplos incluem as palavras accroître (aumentar), accroissement (aumento), affluer (afluir), affluence (afluência), apprendre (aprender), apprentissage (aprendizado), etc.  As palavras que começam com em- no geral não têm o “m” duplicado, mas as palavras que começam com im- sim. Por exemplo: émigrant (emigrante), émancipé (emancipado), immédiatement (imediatamente), immobilier (imóvel). Mas essa regra também tem exceções como emmagasiner (estocar), emmêler (embaraçar), image (imagem), imiter (imitar), etc. Na negação lexical (contrário de uma palavra colocando a letra “i” na frente) a consoante geralmente se duplica. Por exemplo logique (lógico) se torna illogique (ilógico), réel (real) se torna irréel (irreal), moral (moral) se torna immoral (imoral), etc. Existem também palavras específicas  que podem ter a duplicação da consoante ou não, o que leva a significados completamente diferentes. Por exemplo balade (passeio) e ballade (tipo de poema), cane (pata) e / canne (bengala), sale (sujo) e salle (sala), etc. Além dessas regras muito gerais e cheias de exceções, existem algumas inconsistências. Por exemplo escrevemos consonne (consoante) mas consonance (consonância), donner (dar) mas donation (doação), honneur (honor) mas honorer (honrar), etc. Vejam a seguir algumas frases com consoantes duplas:

O que significa em francês ?

“Faire la grasse matinée”

Literalmente, essa expressão significa “fazer uma manhã gorda”, o que não faz sentido nenhum, certo? De fato, ela significa que você fica mais tempo na cama do que de costume ou dorme até mais tarde. No início do século 16 dizia-se “dormir la grasse matinée” e ao longo dos séculos transformou-se um pouco para ser hoje “faire la grasse matinée”. Essa expressão é muito usada em francês. Vamos ver exemplos para você treinar mais um pouco de nosso lindo idioma.

Dicas de francês

“T” mudo ou não?

Por que o “t” é mudo em “il fait froid” (está fazendo frio), mas não é em “de fait, je suis en retard” (de fato, estou atrasado)? O “t” é geralmente mudo no final das palavras, mas existem exceções. A palavra fait é muito versátil e pode se referir ao verbo fazer, a um nome masculino (significando fato ou ocorrência), a um adjetivo (significando ser feito para), ou ainda a uma locução adverbial ou conjuntiva quando precedido de en, de, au, etc, como em en fait (que significa na verdade, basicamente) ou au fait (que significa a propósito). O verbo faire sempre terá a conjugação fait com o “t” mudo: “Il fait trop chaud pour travailler” (está fazendo calor demais para trabalhar), ou “elle fait exprès de te taquiner” (ela faz de propósito de te provocar), o que também poderia-se dizer “elle en fait exprès” (Ela faz isso de propósito) – aqui não confunda o en fait (pronome + verbo, em qual caso o “t” é mudo) com o advérbio en fait, onde o “t” é pronunciado. Quando a palavra fait é um adjetivo, o “t” também é mudo. “Un travail bien fait” (um trabalho bem feito), “c’est fait main” (isso é feito à mão). Agora, o nome masculino fait (não o verbo!) geralmente se pronuncia com um “t” sonoro no singular mas tem o “t” mudo no plural. Por exemplo, dizemos “le fait (pronúncia do “t”) qu’on avance veut dire qu’il y a du progrès ” (o fato da gente estar avançando quer dizer que há progresso), mas dizemos “les faits (“t” mudo) sont ce qu’ils sont” (os fatos são o que são). Mas essa regra também tem exceções e a palavra fait no singular tem o “t” mudo em expressões do tipo fait divers (notícia local), en fait de (em relação a), tout à fait (absolutamente). Quando fait é usado em alguma locução adverbial ou conjuntiva o “t” geralmente é pronunciado: “ – as-tu faim? – Non, en fait j’ai déjà mangé” (- você está com fome? – não, na verdade eu já comi); “est-ce qu’il est de fait heureux d’être là?” (será que ele está realmente feliz de estar lá?); “Au fait, je t’ai emprunté 30 euros” (a propósito, eu peguei 30 euros seus emprestados);  Além do fait existem regras (ou exceções para ser mais específica, já que a regra é o “t” mudo!) para o “t” final de algumas outras palavras. Os números sept (sete) e huit (oito) e seus derivados (dix-sept (dezessete), vingt-huit (vinte e oito), etc), por exemplo, têm seus “t” pronunciados.  Muitas palavras curtas como but (gol), est (o nome leste, e não o verbo être (ser) conjugado, onde o “t” é mudo!), ouest (oeste), dot (dote), lest (lastro), rut (cio), entre outras, também tem o “t” pronunciado. Mas como tudo, essa regra/exceção também tem exceções (exceção da exceção, ou seja, regra!) e dizemos coût (custo), goût (gosto), trait (traço) com “t” mudo.  Muitas palavras que terminam com alguma consoante (como “p”, “c”, etc) seguidas diretamente do “t”, no geral, vêm as duas consoantes pronunciadas. Por exemplo exact (exato), tact (tato), compact (compacto), correct (correto), intellect (intelecto), verdict (veredito), abrupt (abrupto), concept (conceito), rapt (rapto). Mas também há exceções como: suspect (suspeito), respect (respeito), instinct (instinto), corrompt (corrompe), que têm suas duas consoantes finais mudas. Resumindo, a regra é o “t” mudo, mas como vocês puderam ver existem muitas exceções e exceções às exceções, então é bom sempre usar a regra principal e pouco a pouco, no seu aprendizado de francês, ir se familiarizando com as palavras específicas que seguem outras regras, como algumas das citadas aqui acima. Veja a seguir algumas frases com fait e antes de escutar os áudios tente adivinhar se o “t” é mudo ou pronunciado. Vamos lá? 

Dicas de francês

A democratização do gênero das palavras em francês

Existem algumas palavras em francês que só existem no gênero masculino. Isso acontece com muita frequência para algumas profissões, por exemplo, que antigamente eram exclusivamente reservadas ao gênero masculino, já que muitas mulheres viam seus direitos restringidos. Então assim em francês existe apenas a palavra “le professeur”  por exemplo, mesmo se o professor em questão for uma mulher. Para poder deixar claro que se trata de uma mulher teria que colocar algo na frase que especifique isso:  « Mon professeur est une femme très intelligente »  (o meu professor é uma mulher muito inteligente).  Mas não poderíamos dizer «  mon professeur est très intelligente » pois necessitamos o acordo de gênero nesse caso.  Bem, digamos que isso ainda não é aceito  formalmente pela academia francesa de letras, onde ainda teria- se que dizer por exemplo : « Madame Dubois est professeur de piano » (senhora Dubois é professora de piano). Porém, agora que as mulheres têm um papel mais dinâmico na sociedade do trabalho fora de casa, vemos cada vez mais tentativas de mudar a linguagem e feminizar algumas palavras, como por exemplo, professeure, professeuse, professeresse. Ainda não existe consenso na palavra mais adequada, então acaba que a mais usada pela sociedade é geralmente a mais aceita na linguagem do dia a dia. Mas algumas ferramentas online bem conceituadas, como o Larousse en ligne, por exemplo, autorizam o uso de professeur e professeure. Outros neologismos cada vez mais aceitos na linguagem são la ministre (a ministra), la présidente (a presidenta), l’écrivaine (a escritora), etc. No entanto ainda existem palavras que continuam a serem usadas exclusivamente no gênero masculino, como ingénieur (engenheiro), juge (juiz), mannequin (manequim), architecte (arquiteto), cadre (quadro), commissaire (comissário), peintre (pintor), diplomate (diplomata), médecin (médico). As palavras que terminam com “e” (como peintre, cadre, juge, etc) parecem se adequar tanto para o masculino como para o feminino e serem aceitas para ambos os gêneros, já que muitas vezes o feminino se caracteriza pela adição de um “e” no final da palavra em francês. Você já deve ter visto isso enquanto estava aprendendo francês online, como por exemplo: chien e chienne (cachorro e cachorra), ami e amie (amigo e amiga), ou dernier e dernière (último e última). E para terminar, vale ressaltar que a exclusividade de gênero não existe somente no contexto profissional, mas também em outros contextos. Outras palavras que são usadas unicamente no gênero masculino são : gourmet, imposteur (impostor), chef (chefe), témoin (testemunha), vainqueur (vencedor), usager (usuário), entre outras. A origem dessa « regra » não parece tão óbvia quanto às palavras relacionadas a profissão. Pode haver outros motivos. Como também existem palavras exclusivamente femininas, como altesse (alteza), canaille (canalha), idole (ídola), personne (pessoa), victime (vítima), etc.  Veja a seguir alguns exemplos do uso dessas palavras: 

Músicas francesas

À la claire fontaine

À la claire fontaine é uma canção francesa tradicional baseada em poema do século 15. Toda criança francesa a aprende na escola. Faz parte de nossa cultura e foi levada para o Canadá onde se tornou o primeiro hino da Nova França. Há mais de 500 versões dessa canção, mas essa apresentada hoje no site para você aprender mais francês, é a mais comum.

Expressões do Quebec, da Bélgica e da Suíça

“Je m’en câlisse”.

Muito usada no Québec, essa expressão quer dizer que você não está nem ai com alguém ou com alguma coisa. Na França a gente usa “Je m’en fous”. Tanto a expressão quebequense quanto a francesa são consideradas vulgares. Dependendo de onde estiver e com quem estiver falando francês, não use. O verbo “câlisser” no Québec significa arremessar, jogar, como por exemplo: elle a câlissé l’assiette par terre (ela jogou o prato no chão). Deriva da palavra “calice” que nada mais é que o objeto religioso de mesmo nome em português. É interessante como as palavras derivadas da religião católica se tornaram palavras de baixo calão no Québec. Por conta da herança religiosa, algumas dessas palavras – que eles definem como “sacres” – podem ser vistas até como blasfêmias.

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